terça-feira, 15 de novembro de 2011

Bairro de cidade alemã gera 20% da energia consumida com luz solar

Vauban, em Freiburg, foi planejado para abrigar imóveis de baixo consumo.
Casas funcionam como miniusinas de geração de energia elétrica.

 

08/11/2011 07h35 - Atualizado em 08/11/2011 07h35

Eduardo Carvalho Do Globo Natureza, em Freiburg - o repórter viajou a convite do governo de Baden-Württemberg

Com casas construídas para reaproveitar a incidência de raios solares para a geração de aquecimento interno e energia elétrica, o bairro de Vauban, em Freiburg, na Alemanha, é considerado um exemplo do que se chama “viver com sustentabilidade”.
Com 2 mil moradias e 5 mil habitantes, a área de 410 mil metros quadrados abrigou uma antiga base militar pertencente à França, no período pós-Segunda Guerra Mundial, desativada três anos após a queda do Muro de Berlim, em 1989.
A necessidade de expansão imobiliária em Freiburg obrigou a prefeitura a utilizar o terreno que ficou vazio após a retirada das tropas. Com isso, surgiu o projeto Vauban, realizado pelo arquiteto Rolf Disch, conhecido internacionalmente, e que previa casas e prédios passivos, ou seja, com baixo consumo de energia elétrica.
O primeiro prédio com 20 apartamentos foi construído entre 1997 e 1998, mas o projeto só foi concluído em 2006, quando foi concluída a construção de 58 imóveis que funcionavam como miniusinas de geração de energia elétrica.
Segundo Hans-Georg Herr, consultor da empresa Freiburg Futour, que trabalha com planejamento urbano, cada imóvel foi construído com camadas de isolamento de 40 centímetros de espessura, além de janelas grandes com três filtros voltadas para a área com maior incidência solar.
“A intenção é que o calor gerado no interior da casa seja reaproveitado”, disse Herr. Ao menos 20% de toda a energia elétrica consumida pelos moradores de Vauban é proveniente de placas solares instaladas pelas moradias do bairro.

Miniusinas
Ainda de acordo com Herr, cada imóvel foi construído para funcionar como uma pequena usina geradora de energia elétrica. Placas de captação de luz solar foram instaladas no telhado e suprem o consumo interno. O excedente é redirecionado para a rede pública.

“Para cada kWh de energia elétrica produzido, o governo paga 0,30 centavos de euro. Esse subsídio é garantido por 30 anos. Durante um ano, esses imóveis produzem o dobro de energia que consomem”, afirma Herr. Mas a preservação do meio ambiente sai cara. Cada imóvel com baixo consumo de energia custa 240 mil euros.



Para os demais imóveis, o metro quadrado em Vauban é 2.400 euros (R$ 5.768), enquanto que nas demais regiões de Freiburg o custo do metro quadrado é 1.700 euros (R$ 4.086).

Zona de tranquilidade
Para evitar a circulação de automóveis pelas ruas do bairro, foram construídos bolsões de estacionamento nas principais vias para automóveis de moradores e de visitantes. Estimativa da Freiburg Futour é que existam 220 vagas para cada 1.000 moradores.



O uso de bicicletas é aconselhado e há ciclovias cortando praticamente todas as ruas, juntamente com os "trams", bondes que funcionam como uma espécie de metrô de superfície.
Além disso, a reciclagem do lixo no bairro segue o padrão de Freiburg, que recicla 67,5% dos resíduos sólidos. Contêineres estão espalhados pela região para coletar material eletrônico, além de plástico, vidro, lixo orgânico e metais.
A tranquilidade do bairro chamou a atenção de Günther Schülli, que saiu da região central de Freiburg para que o filho pudesse crescer com qualidade de vida.
"Quando o bairro começou a ser construído, meu filho tinha 4 anos. Quando morava mais para o centro eu tinha uma vida anônima. Mas agora, estou num lugar onde todos se conhecem", disse Schülli. Segundo o morador, a forma como o bairro foi criado é importante para o futuro do planeta, pois tem menos impacto no meio ambiente.

Link para a materia aqui.

Vejam as fotos de Vauban tiradas por mim aqui.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reposta do site G1 para mim

Copiado da minha caixa de email para o blog.

Fale Conosco do G1 faleconoscog1@globo.com 14:06 (2 horas atrás) para mim
       
Prezado leitor,

Obrigado pela participação!

De fato, a idade de 550 anos é da Universidade de Freiburg, não da cidade. A informação foi retirada do texto.  Em 1120, Freiburg foi elevada à categoria de cidade e feira. As primeiras ocupações no local são ainda mais antigas. 

Atenciosamente,
G1 - O Portal de Notícias da Globo


Eu já tinha mencionado sobre quando Freiburg passou a ter o status de "cidade" ao final da reportagem publicada no post anterior.

Cidade que se rebelou contra energia nuclear é modelo na Alemanha

Freiburg é considerada a 'capital da proteção do clima' no país.
Hoje, 10% da energia elétrica do município vem de fontes renováveis.

 

07/11/2011 15h13 - Atualizado em 07/11/2011 15h13

Eduardo Carvalho Do Globo Natureza, em Freiburg - o repórter viajou a convite do governo de Baden-Württemberg

Considerada a capital da proteção do clima na Alemanha, Freiburg, município com 220 mil habitantes do estado de Baden-Württemberg, é um dos símbolos da luta da população contra a implantação de usinas nucleares e de incentivo ao desenvolvimento de tecnologias limpas.
Na década de 1970, os moradores da cidade de 550 anos* perceberam que a instalação de um complexo atômico poderia ser um risco à economia local, voltada principalmente para a agricultura.
“O governo justificava que se nada fosse feito, haveria o risco de ‘apagão’. Para que o projeto de instalação da usina não fosse adiante, estudantes e moradores acamparam durante três anos no terreno onde seria construído o complexo, enquanto especialistas e professores das universidades instaladas aqui buscaram argumentos científicos para contestar a instalação da usina”, conta Stefan Adler, gerente executivo do Centro de Energias Renováveis da Universidade de Freiburg.
Segundo Adler, foi provado que não havia necessidade da implantação da usina. Tal fato coincidiu com a instalação de institutos de pesquisas, como o Fraunhofer, que passou a desenvolver tecnologias de geração de energia limpa, com recursos como a luz solar, já que a região é uma das mais ensolaradas da Alemanha, com 1.800 horas de sol por ano.
Atualmente, 10% de toda a energia que abastece a cidade é proveniente da energia eólica (cinco turbinas que se movimentam com a força dos ventos e geram 14 GW ao ano), dos 15 mil metros quadrados de placas fotovoltaicas instalados nas residências e nos prédios públicos (que geram 10 GW por ano) e de usinas de biomassa. A meta é chegar a 20% até 2020.

Plano executivo
Segundo Franziska Breyer, diretora do departamento de Meio Ambiente de Freiburg, só foi possível alcançar tais números devido a regulamentação de um plano para proteção climática, criado em 1986 e revisado em 1996.

“Os nossos objetivos são a redução do consumo de energia, o aumento de sua eficiência e a implantação de formas de energias renováveis. Além disso, em 2007 criamos um novo plano que previa reduzir em 40% as emissões de CO2 até 2030 com campanhas educativas, criação de políticas para os transportes e implantação de regras para que as construções fossem mais sustentáveis”, disse Franziska. A meta da cidade é chegar a 2050 com 80%.
Um dos desafios de Freiburg, segundo a prefeitura, foi a implantação de regras para os transportes. O primeiro passo foi proibir a circulação de carros pela região central e dificultar o seu uso, com o aumento das taxas de estacionamento público e implantação de zonas de tranquilidade.
Para que isso funcionasse, foram construídos 410 km de ciclovias (número que será expandido) e foi implantado um sistema de transporte integrado, que possibilita às pessoas circularem por um trecho de 2.850 km do estado de Baden-Württemberg, a partir de Freiburg, utilizando 90 linhas percorridas por trens e ônibus ao custo de 46 euros** por mês.
“Mas há subsídios do governo para que isto ocorra, senão as empresas não teriam lucro. Em 1994, 57,4 milhões de pessoas utilizavam o transporte público. Em 2004, este número saltou para 104,7 milhões, sem contar os 30% da população que utiliza a bicicleta como meio de transporte”, disse a representante da prefeitura.

Ruas do Centro de Freiburg, na Alemanha. Cidade é considerada a capital verde do país devido aos planos de redução nas emissões de CO2 e fomento às tecnologias limpas para geração de energia (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)

Pesquisa
De acordo com Brisa Ortiz, pesquisadora do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar, a tecnologia fotovoltaica, com placas de silício, disseminada em Freiburg, tem um custo alto de instalação, mas seu custo compensa devido à geração de energia elétrica com o passar do tempo.

Ela afirma que o Brasil, por ter alta incidência de sol durante todo o ano, poderia utilizar mais essas placas em projetos que beneficiariam populações de baixa renda e de localidades distantes, como as comunidades ribeirinhas da Amazônia, que atualmente utilizam geradores movidos a diesel para gerar energia.
“O ideal é que fossem implantadas miniusinas híbridas, que captasse luz solar e ainda gerasse energia de outra forma. Já existem projetos no México, na China e poucos casos no Brasil, por meio do programa ‘Luz para Todos’. Os custos são baixos nesses casos e valem a pena porque substituem o uso do óleo diesel na geração de energia elétrica”, diz Brisa.

* Freiburg foi considerada uma cidade/mercado livre em 1120. Entretanto, há registros de ocupacao da regiao anteriores à essa data. Nao há um ano exato de fundacao da cidade, contudo, sem dúvida, a cidade tem mais de 550 anos como afirma a reportagem.
** O preco da passagem já subiu para 48,50 euros...

Link para a reportagem aqui.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Alemanha quer ter energia limpa equivalente a 14 vezes Belo Monte

Governo alemão vai substituir energia atômica pela solar e de biomassa. Cidadãos podem vender energia produzida nas residências.


03/11/2011 16h57 - Atualizado em 03/11/2011 16h57

Eduardo Carvalho Do Globo Natureza, em Stuttgart - o repórter viajou a convite do governo de Baden-Württemberg
 
A decisão do governo da Alemanha de encerrar a geração de energia proveniente de usinas nucleares e diminuir a quantidade de complexos movidos a carvão, responsáveis por altas emissões de carbono, vai aumentar o emprego das energias renováveis no país, como a solar, eólica e biomassa, que saltarão dos atuais 16% de toda a matriz energética para 80% até 2050, segundo o plano oficial. A potência instalada de fontes renováveis deverá chegar a 163,3 GW.
É como se em quatro décadas a Alemanha construísse o equivalente a mais de 14 usinas com a mesma potência da de Belo Monte, que terá capacidade para produzir 11,2 GWh de energia no Rio Xingu, no Pará.
Entretanto, a falta de espaço territorial na nação mais desenvolvida da Europa (cabem quase 24 Alemanhas dentro do território do Brasil) não permite tal feito e incentiva a criatividade e o desenvolvimento tecnológico.
O assunto se tornou uma das principais bandeiras do país desde o final de maio, quando o governo de Angela Merkel anunciou o encerramento gradativo das atividades de 17 usinas nucleares até 2022. O tema já era discutido há pelo menos uma década, mas a decisão a respeito foi acelerada após o acidente nuclear ocorrido em Fukushima, no Japão.
Com isso, nos próximos anos, a tecnologia nuclear deixará de produzir 23% da energia elétrica utilizada para abastecimento da indústria e das moradias dos seus 81,7 milhões de habitantes.

À esquerda, exemplos de turbinas de energia eólica que funcionam em regiões da Alemanha; à direita, casas sustentáveis que são abastecidas com luz solar em bairro de Freiburg. Plano da Alemanha é aumentar para 80% da matriz energética até 2050 o uso de tecnologias limpas (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)

Iniciativa
Para substituir a perda, o governo criou um plano determinando que 80% da matriz energética do país seja abastecida por meios renováveis até 2050 e, ao mesmo tempo, criou regras para a reduzir o consumo do país com a aplicação de melhorias na eficiência energética.

Tais tecnologias, que emitem menos gases causadores do efeito estufa, são recomendadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), no intuito de reduzir as emissões de carbono proveniente de usinas de carvão.
Segundo dados da Associação Alemã das Indústrias de Água e Energia (BDEW), até 2010 as energias renováveis provenientes do vento, da reutilização de materiais (biomassa), da água e do sol eram responsáveis por 16% da geração de energia elétrica no país.
O aumento deve ocorrer de forma gradativa com a ajuda de regras como a que determina a implantação de placas solares em residências novas para que a luz solar gere 15% do aquecimento interno da casa, além da água quente consumida.
"Estamos abandonando a energia atômica em todo o país, mas estamos implantando um sistema que denominamos de 'tarifa ecológica', que recompensa pessoas que estão consumindo sua própria energia com meios limpos. O excedente alimenta a rede elétrica, sendo descontado do custo que a pessoa teria que pagar pelo consumo ou mesmo recebendo a quantia em dinheiro ao longo dos anos", explica a pesquisadora Ursula Eicker, da Universidade de Ciências Aplicadas de Stuttgart.



Desenvolvimento
O aproveitamento desses recursos tornou-se prioridade para empresas, instituições de pesquisa e governos estaduais, como o de Baden-Württemberg, no sudoeste alemão.

Com uma população de 11 milhões de habitantes e alta concentração de indústrias – abriga as sedes mundiais de companhias como a Daimler (Mercedes-Benz), Porsche, Bosch, entre outras -, 40% da energia que abastece a região provém da matriz nuclear, segundo Theresia Bauer, ministra de Ciência, Pesquisa e Arte de Baden-Württemberg.
Por conta disso, há um movimento de desenvolvimento de novos produtos voltados à melhoria da eficiência energética que serão utilizados no país e, posteriormente, exportados para outras regiões, como o Brasil.
“Queremos ocupar uma posição de liderança neste contexto, desenvolvendo tecnologias em relação à energia eólica, fotovoltaica e biomassa”, disse a ministra.
De acordo com Theresia, instituições de pesquisa instaladas no estado, e que contam com robustos orçamentos anuais que estão em torno de 1 bilhão de euros, trabalham para desenvolver novos materiais para melhorar o aproveitamento da luz solar na geração de luz elétrica ou aquecimento de residências, com o intuito de baratear essa tecnologia, além de pesquisar formas de construção mais leves para imóveis ou veículos e na criação de produtos e técnicas voltadas para a energia eólica e biomassa.
Entretanto, a ministra ressalta que estudos voltados para o armazenamento destas energias são os que recebem maior atenção. “Acreditamos que esta é uma questão central para o uso de energias renováveis na produção de energia elétrica, justamente devido à falta de continuidade na geração quando não há raios solares suficientes ou ventos para movimentar as turbinas. Uma grande parte dos investimentos está voltada para esta área”, afirma.

A ministra de Baden-Württemberg,
Therezia Bauer (Foto: Eduardo
Carvalho/Globo Natureza)
Energia nuclear no Brasil
Os planos da Alemanha de eliminar a energia atômica de seu país também poderiam respingar no Brasil?

A empresa estatal Eletronuclear e a companhia alemã Siemens são responsáveis por construir o complexo nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, previsto para ser finalizado até 2015 e que custará R$ 6,1 bilhões.
O Ministério de Minas e Energia do Brasil pretende ainda implantar quatro novos complexos atômicos, sendo dois no Nordeste e mais dois no Sudeste.
A obra no litoral fluminense é criticada por ambientalistas brasileiros e alemães, mas, segundo a ministra de Baden-Württemberg, o contrato firmado entre a Siemens e o governo do Brasil será honrado.
“Nossos contratos serão cumpridos. Agora, o que é errado é abandonarmos a energia atômica no nosso país e continuar com sua exportação para outras regiões. Se acreditamos que não é uma tecnologia sustentável, a tendência é que essa exportação não seja continuada”, diz Theresia Bauer.
Ela complementa ainda que os aspectos de segurança e de tratamento de resíduos ainda serão temas pesquisados e discutidos na Alemanha por muito tempo. “Vamos lidar com os aspectos de segurança deste tema por muito tempo, além da situação dos depósitos de resíduos. Essas questões são importantes para a nossa sociedade”, disse.

Link para a matéria aqui.